Quero morrer, que ainda sou novo
quero morrer
Quero morrer, que ainda sou novo
e não há melhor condição para morrer
acabar numa manhã de entusiasmo
ou numa tarde de exuberância
ou numa noite de repouso otimista
partir como um galeão carregado de ouro
e de jovens mareante ávidos de mar
uma viagem que acaba repentina
sem dar tempo aos corpos para se acomodarem
marinheiros que se afundam a cantar
as retinas pintadas da cor da viagem
levando com eles a riqueza da vida
descendo ao abismo com a fé de um tesouro.
Quero morrer, porque o sangue ainda corre
em rios sinuosos e pujantes
que não respeitam a gravidade
nem a tirania das margens
nem o sentido da nascente e da foz
caudais bravios e destemidos
que desaguam na própria nascente
e quando secam
ainda bebem o sentimento da sua torrente.
Quero morrer como um fogo-de-artifício
que acaba na exuberância das cores
vermelho, amarelo, prata, dourado,
azul, roxo, verde incandescente…
brilham no céu num último estertor
caem e sucumbem na glória do orgasmo.