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Quem tem muitas bocas é pescador de todos os murmúrios. É alma de todos os sentires, universo em constante busca pelo impulso da Existência, na multiplicidade das existências. Quem tem muitas bocas está sujeito a profundas explosões internas e é através delas que tudo se unifica e diversifica, criando flashes de pura luz. Quem tem muitas bocas tem uma fonte inesgotável na sua capacidade em criar novos murmúrios que fecundam novas bocas. Assim será, enquanto o bailado feito vida permaneça e mesmo para lá dele, nas inesgotáveis fronteiras da Fé.

Já passei pelo jardim onde os caminhos cheios de cheiros, cores e aromas envolvem a flora e definem o sentido que se pode escolher na liberdade, de para onde ir. Encontrei a jardineira que também estava no caminho. Parei para beija-la e recolher algumas flores que preferi roubar das suas mãos para esconde-las no coração sem que ninguém soubesse. A visita foi breve mas eterna porque fiquei moradora do caminho enquanto a dança se perpetuava..

Visitei o teu jardim vestido de casa e lembrei-me de um outro jardim que cresceu numa profusão de cheiros e cores, onde os verdes sobressaiam tão entrelaçados e selvagens. No início foi um jardim pouco visitado, fadado a crescer na diferença. Nesse jardim há sempre música que se expressa num bailado gestual , uma prece de agradecimento aos jardineiros que generosamente estimulam o crescimento das suas flores e colaboram na remoção das ervas daninhas.
Este Jardim estará sempre em constante transformação, enquanto o bailado, feito vida, permaneça..

O meu jardim também é teu, pelo que vejo. Sabes tratá-lo como poucos, jardineira de excelência, amiga da música das flores e do bailado das almas.