AZUL-TURQUESA
A luz vem até mim cortada pelos troncos
e pelas folhas do bosque que me cerca
figuras complexas nem sei se caóticas
geometria de Deus concretizada.
Tenho à frente um aloendro esquelético
vestido com matizes de líquenes
depois
mais difusos
cedros e pinheiros e carvalhos
e heras que trepam para a luz
sustentadas na lenhite das árvores.
Predomina o verde, mas hoje só queria
que o verde acasalasse com o azul
e fizessem nascer um bosque azul-turquesa
e que logo chegassem os peixes
movendo-se serenos na amplidão da cor
e os pássaros
respeitosamente
pousassem junto a mim para observar
curiosos e extasiados como eu.
O azul-turquesa é o mar do meu amor
porque mescla os seus olhos com o céu
e engravida o meu sonho de ser mais
do que a simples existência rotineira
de um universo de causas sem propósito.
O todo é um vazio se não tem
um pouco de amor a dar-lhe a plenitude
pois só o amor traz tudo à existência.
Vejo as formas lenhosas deste bosque
e os peixes sem pescoço a olhar em frente
e os pássaros com as asas do meu sonho
e sinto-me perfeito neste limbo
da gravidez turquesa que me expande
no redondo dos beijos que me criam.